domingo, 18 de julho de 2010

Argentina se cobre de branco e gelo e Sul do Brasil registra neve e raro episódio de chuva congelante

O Observatório Central de Buenos Aires registrou nesta sexta-feira a menor temperatura mínima dos últimos 19 anos. Segundo pesquisa do licenciado em ciência atmosféricas pela Universidade de Buenos Aires Ramiro Saurral, trata-se da menor marca na capital argentina desde 1º de agosto de 1991. Das 17 marcas negativas anotadas nos últimos 20 anos, 8 ocorreram na década de 90 e 9 na primeira década do século XX. Veja as menores marcas no Observatório Central de Buenos Aires das últimas duas décadas.

-2,1ºC em 1º de agosto de 1991
-1,5ºC em 16 de julho de 2010
-1,0ºC em 16 de julho de 1992
-0,8ºC em 29 de junho de 1995
-0,6ºC em 15 de agosto de 1999
-0,5ºC em 29 de junho de 1996
-0,5ºC em 23 de junho de 2002
-0,5ºC em 24 de junho de 2009
-0,5ºC em 12 de julho de 2007
-0,4ºC em 28 de junho de 1996
-0,4ºC em 12 de julho de 2007
-0,3ºC em 30 de maio de 2007
-0,2ºC em 19 de junho de 1996
-0,2ºC em 11 de julho de 2002
-0,2ºC em 11 de julho de 2004
-0,1ºC em 14 de agosto de 1999
-0,1ºC em 12 de junho de 2002

O ar gelado está associado a um impressionante centro de alta pressão de quase 1045 hPa no Centro da Argentina. Às dez da manhã desta sexta, os boletins de aeroportos indicavam 1042 hPa em Ezeiza, 1038 em Carrasco, 1042 em Rosário, 1038 em Uruguaiana, 1037 em Santa Maria, 1038 em Pelotas e 1036 hPa em Porto Alegre.


A fronteira com o Uruguai teve nesta sexta-feira a madrugada mais gelada do ano até agora com marcas negativas e geada forte. A mínima no Rio Grande do Sul foi de 2,6ºC abaixo de zero em Bagé. Os termômetros indicaram ainda 1,1ºC negativo em Quaraí, 1ºC negativo em Livramento e 0,5ºC abaixo de zero em Jaguarão. Uruguaiana teve -0,5ºC em no Chuí, considerando onde se encontra a estação, a mínima atingiu impressionantes 0,1ºC. No Uruguai, fez -4,4ºC hoje em Mercedes. Na Argentina, houve mínimas assombrosas. Fez -11,5ºC no Observatório de La Quiaca (Jujuy), -13,5ºC em Villa Reynolds (San Luis), -9,5ºC em Malargue (Mendoza), -13,7ºC no Aeroporto de Bariloche (Rio Negro), -14,0ºC em Maquinchao (Rio Negro), -11,5ºC em Esquel (Chubut) e -9,7ºC em Perito Moreno (Santa Cruz). Veja no mapa com as mínimas de hoje como o frio foi extremo no Centro da Argentina como a atuação do reforço de ar polar.


A Argentina se cobre de um manto branco. A onda polar já trouxe neve para 15 províncias do país. Nevou em Buenos Aires, Córdoba, Mendoza, Tucumán, Santiago del Estero, La Pampa, San Luis, Catamarca, San Juan, La Rioja, Neuquén, Rio Negro, Santa Cruz, Chubut e Salta. A Argentina se veste de um manto branco, diz a imprensa portenha. Nas capas dos jornais de hoje da Argentina, a neve é o assunto predominante.





Em Mendoza, os meteorologistas locais qualificaram o evento como a nevada da década. Assim descreveu o Programa Regional de Meteorología del Centro Científico Conicet Mendoza.- Ianigla. Um dos episódios mais expressivos se deu em maio de 1983 e durou cinco dias, quando a acumulação foi de 26 milímetros. Ontem, em um só dia, foram 14 milímetros. Outros eventos marcantes de neve em Mendoza se deram entre 7 e 10 de julho de 2000, 8 de julho de 2007 e em 21 e 22 de julho de 2009. Em setembro do ano passado nevou no fim de setembro, em plena primavera.



Em Tucumán, a nevada é considerada histórica pelo principal jornal da província argentina. Isso porque nesta sexta-feira a neve chegou a locais onde jamais tinha sido observada antes.


Um local que está sendo chamado de epicentro da neve na província de San Juan se chama Jáchal. Ali a quantidade de neve acumulada no solo é enorme e houve interrupção de rodovias. Pelo menos 24 pessoas que estavam isoladas pela neve tiveram que ser resgatadas em Jáchal (Reprodução Diário de Cuyo).



No Uruguai, houve queda de "aguanieve" em vários pontos de Montevidéu durante a tarde da quinta-feira, espantando os moradores. Em alguns pontos, como na conhecida Ciudad Vieja, junto ao Centro, o gelo acumulou nos automóveis (fotos Twitter e reprodução da televisão uruguaia).



Aqui no Sul do Brasil, além da neve fraca e isolada de Luzerna (SC) ontem e de Pitanga (PR) na quarta-feira, tivemos relatos de queda de flocos de neve de forma muito fraca entre a noite de ontem e a madrugada de hoje em São Joaquim (SC) e São José dos Ausentes (RS). Moradores de Ausentes, da localidade de Capão do Tigre, descreveram que nevou por cerca de 15 minutos no meio da madrugada de hoje. A estação do Instituto Nacional de Meteorologia chegou a acusar precipitação com temperatura perto de 0ºC. Moradores relataram neve também em Bom Jesus e Canela, segundo informou a Rádio Gaúcha.

Mais raro do que a neve é um fenômeno conhecido como chuva congelante (freezing rain em Inglês) e que se produziu no Morro da Igreja, a 1800 metros de altitude, em Urubici (SC). Diferentemente da chuva congelada (sleet), em que a precipitação é sólida, a chuva congelante cai na forma líquida com gotas de chuva super-resfriadas que congelam ao atingir superfícies expostas.


Não houve relato de neve no Morro da Igreja, mas apenas chuva durante grande parte da primeira metade do dia. Mas, afinal, por que não nevou se chovia e a temperatura, de acordo com a estação meteorológica, permaneceu o tempo todo negativa, chegando a quase 3ºC abaixo de zero ? É o que se viu na ilustração anterior. Parte da parcela de ar estava aquecida. A sondagem do Aeroporto Salgado Filho tanto de ontem à noite como de hoje de manhã mostrou inversão em vários pontos do perfil vertical da atmosfera com marcas negativas e positivas se alternando até 3 mil metros.


Este é o perfil vertical de temperatura projetada pelo modelo GFS para o Morro da Igrea hoje e nos próximos dias. Vejam como a tendência é de aquecimento em superfície e altitude com o avanço de ar mais quente de Norte.


Logo, não é nenhuma surpresa que tenha de produzido a chuva congelante, fenômeno um tanto incomum no Sul do Brasil, muito mais do que a neve, cuja última ocorrência documentada se deu em setembro de 2005 no interior de São Joaquim. Toda a literatura é clara em indicar que grande parte dos episódios de chuva congelante costuma se dar com o avanço de frentes quentes em que o ar mais quente avança sobre o ar mais frio em superfície (overflow), o que está descrito, por exemplo, em trabalho da Universidade de Illinois (Cyclones and fronts: the development of freezing rain). Observe abaixo dois gráficos da Meteorologia americana que explicam o mecanismo de formação da chuva congelante e uma sondagem de cidade americana em dia que se produziu o fenômeno.





A chuva congelante é extremamente perigosa quando ocorre em grandes cidades porque provoca acidentes de trânsito e queda de árvores, postes e cabos, afinal as superfícies não suportam o peso do gelo. Entre hoje e amanhã tendem a diminuir muito ou quase cessar as condições para neve que ainda se mantêm por mais algumas horas. A grande preocupação passará a ser a chuva.


Veja (acima) que o modelo americano projeta volumes de 100 a 200 milímetros no acumulado para os próximos sete dias em quase todo o Estado, o que, caso venha a se confirmar, pode levar à cheia de rios como na bacia do Uruguai. A temperatura deve se elevar bastante em relação ao que vem se registrando, sobretudo nas mínimas, mas as máximas devem continuar bastante baixas, inclusive com valores atípicos, principalmente no Sul e no Oeste gaúcho, caso de Uruguaiana. Como a atmosfera vai estar muito fria, as condições acabam se tornando favorável à granizo, inclusive com risco de em pontos muitos isolados cair em maior volume. (Produção de Alexandre Aguiar)


Autor: Eugenio Hackbart

Fonte: Direto da Metsul

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