sexta-feira, 31 de maio de 2013

Do 8 ao 80 - Como as ondas de calor no Hemisfério Norte podem levar a frio mais intenso aqui?

Vários países do Hemisfério Norte, dentre eles o Japão, onde 66 pessoas morreram e 1500 foram hospitalizadas nos últimos dias, passam por históricas ondas de calor. Na Rússia, Moscou teve na segunda-feira o dia mais quente em 130 anos de registros históricos com 37,5ºC, superando o recorde anterior de 36,8ºC, de 7 de agosto de 1920. A marca bateu também o recorde de julho que era de 36,5ºC em 30 de julho de 1936. A temperatura neste mês de julho está incríveis 10ºC acima da média histórica na capital russa, fazendo deste o julho mais quente da história em Moscou.

Os moradores de Moscou têm sofrido para lidar com o calor. Lojistas esgotaram seus estoques de ventiladores e ar condicionados, e a maioria dos bares e cafés fica sem gelo e cerveja gelada no começo da tarde. Centenas de pessoas já morreram neste mês afogadas tentando se refrescar em rios, lagos e açudes. Em um só dia foram mais de 70 mortes.

O calor, associado a um sistema de alta pressão que estabeleceu um bloqueio atmosférico, é extremo também em vastas áreas do Oeste e do Sudoeste da Rússia, além da Ucrânia. Esta é a uma das principais regiões agrícolas russas e que sofre pesadas perdas devido à falta de chuva, o que já elevou os preços dos grãos nos mercados internacionais. As autoridades chegam a falar na pior seca em um século.

A onda de calor provocou incêndios florestais e destruiu milhares de hectares de plantações. Pavel Skurikhin, presidente da União Nacional de Produtores de Grãos, diz que está prevista uma redução de até 25% na safra de grãos deste ano, em relação ao ano anterior. Só um incêndio já consumiu mais de 26 mil hectares de floresta.

A fumaça chegou à capital russa e Moscou tem estado coberta por um manto de fumaça. Nas últimas 24 horas foram identificados 63 novos incêndios nos arredores de Moscou. Os moradores mais antigos de Moscou recordam do verão de 1972, quando a seca trouxe incêndios ainda piores.

Apesar destas impressionantes ondas de calor, o planeta se resfria neste mês de julho. Observe as quatro áreas assinaladas no mapa de anomalia da temperatura da superfície do mar no mundo. A queda da temperatura da Terra neste mês está associada ao enorme resfriamento do Pacífico Equatorial em episódio de La Niña que a MetSul Meteorologia está alertando aos seus clientes, atenção, pode ser um dos mais intensos das últimas décadas. Observe que, assim como as anomalias muito positivas de temperatura do mar favoreceram o fevereiro tórrido no Sul do Brasil e no Sudeste, as águas estão agora muito quentes junto às regiões que passam ou recém enfrentaram ondas de calor intensas como a Rússia, Japão e o Nordeste dos Estados Unidos.

Se por um lado algumas regiões do globo têm calor extremo, outras têm frio histórico, como se a atmosfera buscasse equilíbrio e uma compensação. A recente onda de frio na América do Sul que deixou mais de 100 mortos com neve sem precedentes em áreas da Argentina e Bolívia é um exemplo. Lima, capital peruana, teve a menor temperatura em 40 anos. Buenos Aires registrou a menor mínima desde 1991 e pela primeira vez dois dias seguidos com mínimas negativas sem seu observatório central desde 1967. Atente no mapa abaixo para as anomalias negativas de temperatura impressionantes registradas na América do Sul entre 12 e 19 de julho deste ano, segundo a NASA (comparação com as médias 2000/2008).

A persistência do calor intenso no Norte do planeta, para nós da MetSul Meteorologia, assim, é um sinal que teremos ainda eventos significativos a extremos de frio aqui no Estado e Cone Sul no que resta deste inverno e na primavera. A próxima semana, por exemplo, é um claro exemplo desta idéia, quando uma poderosa massa de ar polar deve voltar a atuar na Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil.



Autor: Eugenio Hackbart

Publicado em 28/07/2010 10:46

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